Canto de contos

Aproximam-se as 18 horas, sinto fome. Busco um copo d'água. Descasco uma banana. Essa refeição vai me sustentar por mais algumas horas.

Em momentos como este, eu me satisfaço. Feliz de poder ter essas coisas. Graças a Deus estou empregado e posso comprar coisas boas assim. Não é como se água desse em árvore ou banana caísse do céu.

Começou a chover. Tudo bem. Eu trouxe um guarda-chuva retrátil. Graças a Deus eu posso sair por aí sem me molhar. Guarda-chuva retrátil, o que mais esse povo há de inventar?

Durante meu lanchinho programado, eu penso na vida. Sabe que ontem eu estava numa azia danada? Pois é, mas graças a Deus eu pude pagar um bom médico. Ele me receitou antiácidos. Estou medicado. Está tudo bem de novo. Exceto por uma dorzinha de cabeça, leve. Coisa do dia-a-dia, né?

Dizem que é bom agradecer a Deus antes de comer, mas comecei a comer antes de rezar. Estou com fome e sem muito tempo. Nos tempos modernos é assim: mais corrido. A religião deve se adaptar.

A minha vida está muito boa. Graças a Deus. Ontem eu sai do trabalho um pouco mais cedo para ir ao médico. É muito bom ter um patrão que me permite essas coisas. Hoje saio às 19 horas, por isso faço o meu lanchinho um pouco mais tarde que o de costume.

Graças a Deus eu tenho um carro para me levar aos lugares. Hoje vou sair um pouco mais tarde, mas com meu carro eu consigo ainda pegar a academia em um horário razoável. Imagina de ônibus ou a pé? Obrigado por me dar tantas coisas, meu Deus.

Minhas férias já estão quase chegando. Preciso delas. Juntei um dinheiro. Vou para Guarapari. Obrigado pelo mar, meu Deus. Pela imensidão do oceano. Acho que a Terra foi mesma feita para nós desfrutarmos dela. Graças a meu diligente trabalho posso aproveitar tanto desse mundo. Graças a Deus.

Agora deixa eu voltar para meu trabalho que o chefe quer isto aqui pra ontem.

Amém.